quinta-feira, 5 de março de 2009

POR QUE O AMOR ACABA?

Talvez não seja nenhuma surpresa constatar que exista tantos casamentos sem amor. Este relacionamento humano é muito complexo, e muitos entram nele sem estar inteiramente preparados.
Para tirar uma carteira de motorista precisamos fazer aulas, freqüentar cursos, passar pela prova prática para comprovar que sabemos dirigir. Mas para se obter uma certidão de casamento, basta uma “canetada”. Sem perguntas, sem cursos, sem nenhum teste de conhecimentos.
Assim, enquanto muitos casamentos vão muito bem obrigada, inúmeros outros estão em crise. Talvez um ou ambos os parceiros tenham se casado com expectativas elevadas, mas não estavam devidamente preparados para manter uma relação duradoura.
Quando duas pessoas se conhecem e começam um relacionamento, via de regra muito apaixonados, elas se identificam muito uma com a outra.

A paixão é isso! Faz com que vejamos o outro de um ângulo que o expõe perfeito aos nossos olhos. Com o passar do tempo e com a convivência diária, descobrimos que não é bem assim, e essa constatação pode desgastar o casamento.
O fato é que nascemos e crescemos num mundo que pinta nos livros, filmes, novelas e músicas um quadro um tanto irreal do amor. Durante o namoro, o casal pode achar que está vivendo a realização de um sonho. Mas depois de alguns anos de casados, talvez cheguem à conclusão de que tudo realmente não passou de um sonho! Se a realidade não corresponde às expectativas de viver um conto de fadas, a pessoa pode achar que seu casamento, que tem o potencial de dar certo, é um fracasso total.
É claro que algumas expectativas num casamento são absolutamente necessárias. É natural esperar amor, atenção e apoio do parceiro. No entanto, até mesmo esse desejo tão óbvio e necessário pode não ser satisfeito. Quem nunca falou, sussurrou ou pensou: “Vivo tão só que nem parece que sou casada!” Ou então: “Eu me sinto só e abandonada.” Ou ainda: “Não temos nada em comum.” E mais uma: “A gente vive brigando!”
Em geral não leva muito tempo para um casal descobrir que não tem tantas coisas em comum como parecia durante o namoro. Daí vem o resultado: com o convívio do casamento alguns casais podem chegar à conclusão de que são totalmente incompatíveis. Apesar de terem algumas coisas em comum com relação a gostos e personalidade, a maioria se casa com grandes diferenças no estilo de vida, hábitos e atitudes.
Digamos que, hipoteticamente, exista um curso preparatório para o casamento: qual seria a primeira lição a ser estudada? Na minha opinião deveria ser: Aprender a lidar com as diferenças. Se dois irmãos, filhos do mesmo pai e pela mesma mãe, criados da mesma forma são tão diferentes, porque raios queremos que aquele ilustre desconhecido que acaba de cair de pára-quedas nas nossas vidas seja a pessoa perfeita para estarmos ao lado dele (ou dela) pelo resto de nossas vidas???
Diferenças de opinião são inevitáveis no casamento. Mas como se lida com elas? “Num casamento saudável” não deveria existir receio de expressarmos nossas insatisfações. Mas o que acontece muitas vezes é que na hora da raiva as queixas são desferidas de forma destrutiva, como ataque à personalidade do outro.
Quando isso acontece, o que deveria ser uma conversa edificadora se transforma num campo de batalha: os pontos de vista são defendidos com unhas e dentes, e as palavras são usadas como armas, não como meio de comunicação. Grupos de estudiosos defendem que nas brigas que fogem ao controle, uma das coisas mais destrutivas é que o casal tende a dizer um ao outro coisas que ameaçam o próprio âmago do casamento.
Tão nocivo quanto o ódio, é a indiferença, que pode se tornar uma “arma” mais destrutiva no casamento do que a habitual hostilidade.
É triste constatar que alguns ficam tão acostumados a um casamento sem amor que perdem qualquer esperança de haver uma melhora. Sem expectativa, não há como esperar nada. A esperança sai pela porta da frente e a infelicidade entra pela porta dos fundos. Sem perspectiva não existe alegria, beleza nem leveza. A relação fica pesada, com tanta decepção, incompatibilidade, conflitos e indiferença.
Esses são apenas alguns dos fatores que podem minar o amor num casamento. Naturalmente há muitos outros. Dinheiro, mentiras, sexo, ou melhor, falta de sexo ou entrosamento sexual, filhos, ou a impossibilidade de tê-los.
Quando um casal se descobre infértil, o foco muda radicalmente. O olhar que ambos tinham um para o outro muda de direção. Seria como, por exemplo, olhar para um lindo mar azul: os dois olham na mesma direção. No entanto os olhares não mais se cruzam e aquele “mar” passa a ser o objetivo a ser alcançado e perseguido diariamente e com uma intensidade jamais vivida. Com o passar do tempo, os tratamentos sucessivos, as expectativas, as frustrações, as inúmeras reações sofridas pelos medicamentos e, sobretudo, a chegada (ou não) do bebê, faz este lindo “mar” se transformar num imenso buraco negro que coloca o casal em lados opostos de um imenso cânion.
Cabe a nós descobrir o que fazer depois de nos depararmos diante de tal abismo. Tentar gritar para que o outro nos ouça? Caminhar em outra direção para buscar alguém que nos ouça,? Ficarmos ali, distantes do outro, porém confortados pelo fato de ter o outro ao alcance do nosso olhar, mesmo que distantes? Ou construir uma ponte que nos leve até o meio do caminho. Mais próximos, conseguiríamos mostrar ao outro como construir seu "pedaço de ponte" e, finalmente, nos encontrarmos no meio. Nem pensem em querer construir a ponte sozinhos. O alicerce não fica forte e você despenca no meio da travessia.
Alguns podem até discordar comigo e não se identificarem com meu texto, mas tudo foi dito com propriedade e conhecimento de causa.
Eu poderia continuar a escrever por horas a fio minhas experiências sobre este assunto, que se tornou tão pesado em minha vida, mas prefiro deixar uma constatação (minha que pode servir pra vocês): Se apaixonar é fácil. Difícil é continuar apaixonado.
E uma reflexão: Não importam quais sejam as causas, mas existe esperança para quem se sente preso num casamento sem amor? E o que é o amor, senão uma profunda admiração pelo outro? Como amar sem admirar?

Amigas, desejo a todas muita força, luz, sabedoria e paz para todas!
Um grande beijo.
Alice