Achando que já era hora de trocar o post, de novo recorro a Silmara, ao seu lindo texto, cujas palavras sempre conseguem me tocar e fazer pensar.
Perguntas da Primavera: SIM OU NÃO?
Qual foi a última vez que você disse não? Mas não em uma frase qualquer, do tipo “Não vi a novela ontem” ou “Você não pode ir brincar lá fora”, nem “Hoje não posso sair com você”. Fáceis demais, essas.
Quero saber é daquele não proclamado em respeito à sua opinião, à sua vontade, aos seus limites. O inesperado não, tomando meio mundo de assombro, quando todos juravam que seria (mais) um sim seu. Um não firme, sem vacilo e, contudo, cheio de carinho (ou nem tanto). O não repleto de coragem e vazio de medo. Nana-ni-na-não, dito com propriedade a alguém que se acostumou demais ao sim. Um não cinematográfico, com direito a um ou mais queixos caídos lhe assistindo. Vale até aquele não de muitos decibéis em plena madrugada, marcando de vez a aurora da sua vida.
Confesse: faz tempo.
O sim é irmão mais velho do não. Irmão de olho azul: a gente insiste em achá-lo mais bonito e mais simpático que o caçula. E o não, que não é o primogênito, nem tem olho claro, nem é tão legal, fica lá, negado num canto da vida. Tímido, demora a entrar em campo, e geralmente só o faz quando a coisa está feia mesmo. E às vezes pode ser tarde. É do tipo que desconhece seu poder, até mostrar que sabe fazer gol, virando o jogo nos quarenta e quatro do segundo tempo. É aquele sujeito que tem umas idéias diferentes, mas que, com jeitinho, aprende a se impor e passa a ser respeitado na roda.
Todo não, assim como todo sim, tem seu preço. A diferença é que o não costuma ser pago à vista, enquanto o sim acaba sendo quitado em prestações, geralmente em mais vezes do que se pretendia. Um costuma ser mais em conta que o outro, embora isso dependa da lógica do mercado, que às vezes não tem lógica alguma.
É o sim quem torna oficial – e presunçosamente eterno – um amor. Mas é o não quem decreta seu fim. O sim é quase uma promessa de vida no coração. O não são as águas de março que fecham o verão. Juntos, os dois movem o mundo.
Na semana ainda na metade, pense na pergunta que a primavera faz. Vale tudo para descobrir com quantos nãos se faz um sim, e quantos sins estão por trás de um bom não. Só para saber qual dos dois irmãos tem tomado mais conta de você. Pelo sim, pelo não."
Quanto a mim, minha mãe sempre nos ensinou (ou tentou), a sermos firme numa e noutra situação. Ela dizia, “minha filha, diga sim, quando for sim e não, quando for não”. Não sei se me fiz entender, mas o que ela quis dizer ra pra não vacilarmos no momento de dizer um “sim” ou um “não”. Porque cada um tem a sua hora, e é importante dizermos ambos com a mente firme e com o coração aberto. Senão, quem mais irá sofre, seremos nós mesmos.
Percebo que a medida que crescemos e envelhecemos temos mais dificuldades em dizer não.
Lembra de quando éramos crianças e que o “não” saia tão facilmente de nossas bocas, para desespero de nossos pais?
Pois é, por mais paradoxal que isso seja, tem horas que devemos voltar a ser crianças justamente para termos coragem de dizer aquele NÃO sonoro, cheio de significados, e que só as crianças tem a ingenuidade de dizer.
E vcs, qual a última vez que disseram aquele NÃO, vindo do fundo da alma, libertador?
bjs
Ivana